Clarissa Corrêa
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. "
sábado, 10 de novembro de 2012
Quer saber um segredo? As pessoas mentem. Nem todo mundo
viveu um amor. E não é todo mundo, desculpa a franqueza, que vai ter a chance,
a sorte, a ousadia de viver um sentimento tão puro como esse. Eu queria de uma
forma meio desesperada que fosse amor. E dizia que era. Até sentia que era. Sentia porque eu queria,
muito, sentir. Mas, olha, não era. Não era, não foi. A gente não foi tudo
aquilo, não. Aquilo era uma paixão forte, uma coisa que me tocou, me mexeu, me
revirou, chegou sem fazer barulho, pé por pé e depois fez um estardalhaço
grande aqui no meu peito, na minha vida, nos meus dias, nas minhas noites. Aquilo
quase me destruiu por dentro e por fora. Acho que você não entende direito o
que quero dizer, mas quem já viveu uma paixão violenta e arrebatadora sabe do
que estou falando. Dói, ai, como dói. E arrebenta por dentro. Arrebenta feito
balão de festa. Estoura, entende? Estoura e não sobra nada, não sobra um pedacinho
pra contar história. Aquilo é feito um vaso bonito e caro, que se parte em
vários pedaços e muito, muito tempo depois de ter varrido a sala você encontra
um caquinho naquele canto do sofá. Não, ninguém viu. Você varreu o melhor que
podia, mas deixou aquele caquinho passar. E aquele caquinho traz de novo todas
aquelas recordações que você pensou ter esquecido. Aquele caquinho traz aquele
pedacinho que não tinha sobrado nem pra contar história. Então, as histórias
aparecem. Uma de cada vez. Uma de cada vez, uma em cada lugar da longa fila. Uma
que vem depois da outra. Uma que chega, te dá um pontapé e chama a outra.
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